Ficha Técnica
Projecto:
Conceito Original, Encenação, Cenografia, Realização: Filipe Faria/Arte das Musas
Música de: Filipe Faria e Pedro Castro a partir de Diego Ortiz (c.1510 - c.1570)
Coreografia: Carla Albuquerque – Companhia de Dança de Almada
Textos: Seleção de Filipe Faria a partir de Pero Meogo (s. XIII?), Cristóvão Falcão (c.1512 - c.1557), D. Dinis (1261 - 1325), Airas Nunes (s. XIII), Joam Zorro (s. XIII)
Performance:
Filipe Faria: Voz, Percussões, Ukulele, Berimbau, iPad
Pedro Castro: Flautas, Charamela, Gaita de Foles, iPad
Íris Fonseca: Bailarina – Companhia de Dança de Almada
Rita Santos: Direcção de Cena
CD Todas as noutes passadas
01 Enas verdes ervas 6'30
Texto \text Pero Meogo (s. c. XIII?)
MÚSICA \MUSIC Filipe Faria (n. b. 1976) \ Pedro Castro (n. b. 1977)
a partir de after Recercada Primera, Diego Ortiz (c.1510 - c.1570)
02 Como dormirão meus olhos? 6'24
Texto \text Cristóvão Falcão (c.1512 - c.1557)
MÚSICA \MUSIC Filipe Faria \ Pedro Castro
a partir de after Recercada Segundo, Diego Ortiz
03 Levantou-s' a velida 4'36
Texto \text D. Dinis (1261-1325)
MÚSICA \MUSIC Filipe Faria \ Pedro Castro
a partir de after Recercada Tercera, Diego Ortiz
04 Bailemos ja nós todas tres... 9'45
Texto \text Airas Nunes (s. c. XIII)
MÚSICA \MUSIC Filipe Faria \ Pedro Castro
a partir de after Recercada Quarta, Diego Ortiz
05 Cabelos, los meus cabelos 5'14
Texto \text Joam Zorro (s. XIII)
MÚSICA \MUSIC Filipe Faria \ Pedro Castro
a partir de after Recercada Quinta, Diego Ortiz
FILIPE FARIA
Voz Voice
Adufe 1
Viela medieval Medieval Fiddle 2
Vassouras Broomsticks
Berimbau Jew's harp
Palmas Handclaps
Guizos Foot bells
Ovos Egg shaker
Pandeiro Tambourine
Bombo Bass drum 3
Reco-reco
Caxixi
Guitalele 4
Unhas de cabra Goat nails
PEDRO CASTRO
Flautas Recorders 5 6 7
Charamelas Shawms 8 9 10
Luthiers 1 José Relvas, Idanha-a-Nova, Portugal, 2012/2014 | 2 VIELA medieval/Medieval Fiddle por/by Marco Salerno, Zagarolo, Itália/Italy, 2010, segundo escultura da Catedral de Estrasburgo (s. XIII?) /after Strasbourg Cathedral sculpture (13th? c.) Arco medieval/Medieval bow por/by Asier de Benito, Bétera, Espanha/Spain, 2015 | 3 Natalino Alves, Lavacolhos, Portugal, 2012 | 4 APC António Pinto Carvalho, Braga, Portugal, 2014/2015 | 5 Flauta tenor renascentista/TENOR RENAISSANCE RECORDER POR/BY Adrian Breuking, Enschede, Alemanha/Germany, 2000, segundo modelos do s. XVI \after models from the 16th c. | 6 Flauta BAIXO renascentista/BASS RENAISSANCE RECORDER POR/BY Adrian Breuking, Enschede, Alemanha/Germany, 2000, segundo modelos do s. XVI \after models from the 16th c. | 7 Flauta alto renascentista/alto RENAISSANCE RECORDER POR/BY Monika Musch, Freiburg, Alemanha/Germany, 2002, segundo modelo na descrição e digitações de Ganassi \after model in Ganassi's description and digitations | 8 Charamela soprano/SOPRANO SHAWM POR/BY John Hanchet, Norwich, Inglaterra/England, 2010, segundo original de Salamanca \after Salamanca original | 9 Charamela ALTO/ALTO SHAWM POR/BY Pedro Castro, Mário Estanislau e Vítor Félix, Torres Vedras, Portugal, 2012, segundo original de Bruxelas \after Brussels original | 10 Charamela TENOR/TENOR SHAWM POR/BY John Hanchet, Norwich, Inglaterra/England, 2004, segundo modelos do s. XVII \after models from the 17th c.
Todas as noutes passadas*
PROJECTO PARA TODAS AS INFÂNCIAS
ESPECTÁCULO + FORMAÇÂO + CD
Noite. Detrás das árvores vem uma música que me chama... é uma melodia antiga, com mais de quatrocentos anos... curta... grave... que se repete, repete, repete... e de tanto repetir acaba por fazer parte de mim... Sinto-a passar dos ouvidos para todo o corpo... para lá ficar... para poder ouvir agora outra melodia tão antiga como a primeira e outra tão nova como a noite passada... Repete e repete... Ouço uma voz... canta um poema com setecentos anos mas que parece de hoje (entendo o que diz) e repete, também ela - meu amigo, meu amigo... Parece que fala de saudade ou de amor pelos animais que habitam a floresta... pelos cervos bravos que andam nas verdes ervas... Vejo os cervos ao longe... Repete e repete... Sei que estes sons são mesmo muito antigos mas estou a ouvi-los hoje, na noite, como se fossem de hoje... e são... já foram... claro que foram de hoje... sempre foram de hoje porque o som, como a noite, não tem tempo... Estão no meu corpo... na memória de cada bocadinho do meu corpo... Ouço e vejo ao longe instrumentos muito antigos - uns mais, outros menos - pedaços de madeira desta floresta... são flautas, charamelas, vielas, adufes... e uma luz fraca... Sons de ontem, lá de muito atrás, que quase esquecemos (mas hoje, bem hoje)... e não esquecemos porque estão cá dentro, no corpo... em cada bocadinho... Todos vivemos hoje, esta noite... não ontem, nem amanhã...
Pero Meogo (séc. XIII) - autor do primeiro poema cantado "Enas verdes ervas" - sugere um imaginário bucólico muito especial e introduz o cervo na lírica galaico- -portuguesa medieval... o cervo bravo. As nove Cantigas de Amigo que se conhecem de Meogo - a totalidade da sua obra que sobreviveu até aos nossos dias - referem este animal da floresta, como símbolo do amor... Todas... Uma idée fixe... A linguagem poética expressa, simbolicamente, velhos ritualismos medievais mas que são, ao mesmo tempo, tão próximos dos de hoje... tão próximos do sereno imaginário infantil - que é de todos nós, se quisermos - feito de florestas encantadas, árvores que falam, feitos de "gosto de ti, gostas de mim?", Reis que cantam, animais que crescem e se escondem... feitos tanto do que é como do que podia ser... A música corre para trás e para a frente quinhentos anos... os poemas, duzentos... Da floresta do século XIII espreitamos, por um instante, as noites do século XV, para depois regressar às palavras escritas por um Rei, a um baile debaixo das avelaneiras floridas ou às tranças de uma rapariga... Hoje podemos visitar todas as noites passadas... Cenários encantados tão próximos do sereno imaginário infantil - de todas as infâncias (mesmo as dos avós que brincam ao faz de conta) - feito de... florestas encantadas... árvores que falam... feitos de "gosto de ti, gostas de mim?"... Reis que cantam... animais que crescem e se escondem...... feitos tanto do que é.................. como do que podia ser...
Filipe Faria
*All of the nights gone by
Night. From behind the trees waft strains of music, calling to me... an ancient melody, over 400 years old... brief... low pitched... repeating over and over, and over... and as it repeats, it becomes part of me... I feel it spreading from my ears to my whole body... remaining there... so that I might now listen to another melody, just as ancient as the first, and one as recent as last night... over and over... I hear a voice... it sings a 700-year-old poem, but one that seems as fresh as today (I can grasp what it says), and it too repeats – meu amigo, meu amigo (my friend, my friend)... It seems to tell the animals that dwell in the forest... the white deer that wander through the green meadows... of longing and love... I see the deer from afar... Over and over... I know that these sounds are very old, but I hear them now, tonight, as though they have just been made... and as though they are... as though they have been... of course they have just been made... they have always just been made because sound, like the night, is timeless... They rest within my body... within the memory of each inch of my body... I see and hear those ancient instruments from afar – some more than others – pieces of wood from this forest... they are flutes, shawms, vielles, timbrels... and a dim light... The sounds of yesteryear, from way back when, the sounds that we’ve almost forgotten (but today, this day)... and we cling on to their memory because it lies deep within us, within our very bodies... in every inch of ourselves... We are all living today, tonight... not yesterday, and not tomorrow...
Pero Meogo (13th century), the author of the first poem that is sung "Enas verdes ervas", conjured up a very special kind of bucolic imagery and introduced the deer – the wild deer – to medieval Galician-Portuguese lyric poetry. The nine Cantigas de Amigo known to have been written by Meogo – the sum total of his work to have survived to this day – all refer to this forest-dwelling animal as a symbol of love... without exception... an idée fixe. His poetic language symbolically expresses old medieval rituals that are nonetheless very close to those of today... akin to the serene imagination of a child – which we can all share, if we wish to do so – made up of enchanted forests, and talking trees, made of “I like you, do you like me?”, kings who sing, animals that grow and hide... made from what is really there and what might come to be... The music slips back and forth, traversing 500 years... the poems... 200 years... From the 13th-century forest we catch a momentary glimpse of nights from the 15th century, before returning to words written by a king, a ball beneath flowering hazel trees or the tresses of a girl... Today we can visit all of the nights gone by... Enchanted scenes with something akin to the serene imagination of a child – of everyone’s childhood (even those of our grandparents who are playing make-believe) – formed of... enchanted forests... talking trees... made of “I like you, do you like me?”... kings who sing... animals that grow and hide...... made from what is really there.................. and what might come to be...
Filipe Faria
LIVE PERFORMANCES
Centro Cultural de Belém Lisboa 2016
Centro Cultural Raiano Idanha-a-Nova 2016
Centro de Artes de Ovar Ovar 2016
Festival Som Riscado Loulé 2016
Quartel das Artes Oliveira do Bairro 2017
“Todas as noutes passadas” é um imenso abraço musical que nos leva a adivinhar um percurso de inventividade e pesquisa; a aventura de criação no qual se cruzam o antigo e o novo: palavras vindas do século XIII, belos instrumentos antigos, eruditos e populares que se encontram ainda com os mais contemporâneos instrumentos digitais - os iPads. É esta abertura, esta liberdade e beleza musical que tem atravessado o já longo encontro entre o trabalho de Filipe Faria, dos seus músicos e dos seus projetos com a programação da Fábrica das Artes do CCB. Foi em 2013 que o Filipe Faria aceitou o desafio de apresentar o seu trabalho pela primeira vez à infância, uma infância que ganha dignidade ao atravessar a porta para o interior da beleza deste universo criativo e musical; uma infância que esteticamente se educa por se espantar no acontecimento e descobrir que arte nesta arte é também sua. E foi na escuta da atenção e implicação deste público mais novo que os projetos foram moldando tempos, cores, luzes, movimentos, relações de proximidade. Descobrimos juntos como é que isto se fazia. Afinal os projetos abriam portas sim, mas não eram para uma infância. Eram para todas as infâncias. Para todas as infâncias que se deixam espantar e que não se deixam apanhar pelas grelhas da categorização. As infâncias que se deixam reunir no tempo e no espaço de fruição de espetáculos como estes. O Big Bang – Festival de Música e Aventura para Jovens, que sustenta a Rede de Instituições Culturais Europeias coordenada pela Zonzo Compagnie e apoiada pelo programa Europa Criativa da União Europeia, foi a estrada que levou os projetos de Filipe Faria de Lisboa para oito países europeus, encontrando-se com mais essas infâncias todas. Foi neste contexto que em 2016 a música de “Todas as noutes passadas” foi espetáculo; a música que se perpetuará agora no futuro com a edição deste CD.
Madalena Wallenstein
Programadora e Coordenadora CCB/Fábrica das Artes
“Todas as noutes passadas” (All of the nights gone by) is a huge musical embrace that allows us to trace a path of inventiveness and research; the adventure of creation in which old meets new: words from the 13th century, beautiful early, erudite and popular instruments crossing paths with the most contemporary of digital instruments – the iPad. It is this openness, this freedom and musical beauty that permeate the long-standing encounter between the work of Filipe Faria, that of his musicians and his projects with the Fábrica das Artes programme at the CCB. In 2013, Filipe Faria accepted the challenge of presenting his work for the first time to the childhood, a childhood who gain dignity merely by crossing the threshold into this beautiful creative and musical world; a childhood whose aesthetic education comes about through being amazed at the event and discovering that the art in this art is also theirs. And it was through this young audience’s attentive listening and involvement that these projects were able to shape times, colours, lights, movements and intimate relationships. We discovered together just how this is done. After all, the projects did indeed open doors, but not just for a childhood. They were for every childhood. For every childhood who are open to amazement and who don’t feel constrained by categorisation. Every childhood who allow themselves to get together in time and in space to enjoy shows like these. The Big Bang – Adventurous Music Festival for a Young Audience, which supports the Network of European Cultural Institutions coordinated by Zonzo Compagnie and supported by the EU’s Creative Europe Programme, was the path that took Filipe Faria’s projects from Lisbon to eight European countries to meet even more of these different audiences. It was in this context that in 2016 the music from “Todas as noutes passadas” (All of the nights gone by) became a show; the music that will now live on into the future with the release of this CD.
Madalena Wallenstein
Programmer and Coordinator CCB/Fábrica das Artes
O projecto "Todas as noutes passadas” é uma encomenda CCB/Fábrica das Artes e uma coprodução Rede Europeia Big Bang, financiada pelo Programa Europa Criativa da União Europeia.”