Catálogo
Catalogue

 

AS CANTIGAS SÃO TANTAS, QUE A MIM ATÉ SE MUDAM
Museu dos Sons Perdidos 3
2022
MU0130
LIVRO

As cantigas são tantas, que a mim até se mudam

Ensaio sobre a Paisagem
de Filipe Faria

Paisagem sonora sobre paisagem
Fátima Torrado Milheiro (n.1944)
São Miguel d'Acha Idanha-a-Nova

Som sobre fotografia

Colecção: Museu dos Sons Perdidos
Volume: 3

Prefácio: 
Luís Pedro Cabral
Paulo Longo

Um projecto de
Filipe Faria

A partir de
Idanha-a-Nova

Paisagem Sonora e Fotografia
Filipe Faria

Edição
Arte das Musas

Colecção
Museu dos Sons Perdidos

Em parceria com
O Homem ONG

Design e Paginação
Filipe Faria

Transcrição
Luís Sequeira

Recolha de textos cantados gentilmente cedida por Fátima Torrado Milheiro

Um projecto
Arte das Musas

Em parceria com
Município de Idanha-a-Nova
\UNESCO Creative City of Music

Com o apoio
Ministério da Cultura
\Direção-Geral das Artes

Páginas 60
Acabamento Capa dura
Língua Português
Dimensões (mm) A205 L165 E100
Peso (kg) 0,264

1ª Edição Idanha-a-Nova 2023
Impressão Gráfica Maiadouro
ISBN 978-989-35083-1-2
Depósito Legal 522808/23
Tiragem 1000 exemplares

© Arte das Musas 2023
Todos os direitos reservados

ENSAIO
Filipe Faria

Ensaio: Ouvimos as palavras e os sons feitos de alegria, desgraça, escolha, vontade, de hoje, de ontem. Exercício: As palavras são âncoras, ditas ou escritas, gritos, sussurros. Experiência: As cantigas têm palavras lá dentro (e são tantas) as pessoas também. E o lugar. A voz deste lugar, São Miguel d’Acha, na voz desta mulher, Fátima Torrado Milheiro, nascida, aqui, em 1944. Esboço: Riscos sobre o poder da palavra, cantada, sofrida, falada, feliz, contida. Prova: Som sobre fotografia. Invisível sobre sais de prata. Ensaio: A voz não tem corpo nem cara.
O corpo (ou a paisagem) tem esta voz.
Tempo a passar.
E a paisagem, um veículo.

Dizem que Guglielmo Marconi (1874-1937), físico e inventor italiano, padrinho da tecnologia rádio, acreditava que o som não morre. Sonhava ouvir os sons perdidos, tocar nessas frequências eternas. 
Podíamos ouvir tudo. Ouvir a primeira inspiração dos nossos filhos e dos nossos pais. Ouvir o primeiro grito da Humanidade, cada sermão, conselho sábio ou riso de todas as gerações. Ouvir o som grave da primeira erupção ou o canto agudo daquela ave que escapou para longe. Todos nós podíamos ouvir tudo. Ouvir tudo, para sempre. 
Depois de produzido, o som não morria mas perdia poder, enfraquecia. Estas ondas sonoras, fracas, sem destino preciso, permaneciam eternamente a flutuar. Qualquer som podia, em teoria, ser recuperado. Ouvido pela primeira ou pela enésima vez. Qualquer som de qualquer lugar ou tempo passado. O primeiro e o último. Um som perdido podia ser ouvido, novamente, com o equipamento certo. Um equipamento poderoso. Um que conseguisse ouvir e escolher. Um por inventar.
Todos os sons são sons perdidos… ondas que flutuam, independentes de outras vontades, até que alguém as consiga sentir ou sem destinatário. Persistentes. Frágeis. Mudas. Flutuações brutais ou discretas. Gritos ou sussurros. Ruídos. Vozes. Com todas as histórias do mundo.
Ainda não foi possível inventar aquele equipamento poderoso com que poderíamos ouvir todos os sons perdidos, mas inventámos a forma de os guardar. Hoje, conseguimos ouvir o dia de ontem, desta ou de outra geografia. Mais ou menos secreto. Enchemos o planeta de sons perdidos. Sons que, dependendo da nossa vontade, podem voltar a ser produzidos.
A construção de um Museu dos Sons Perdidos parte daqui... da tentativa de perpetuar as ondas das memórias pessoais e colectivas de uma comunidade... e o seu potencial criativo. Fundador. Reconfortante. Assustador. 
A paisagem sonora de todos e de cada um, construída pelas biofonias, geofonias e antropofonias de um território… o mundo silencioso a partir do qual nasceu.
E a imagem, um veículo.